Nem toda vítima de bullying é um assassino em potencial, diz psicóloga
Dois casos de alunos mortos por colegas chocaram escolas do Nordeste.
Há uma semana, Senado aprovou projeto de lei de combate ao bullying.
No crime da Paraíba, um aluno teria esfaqueado o colega por causa de uma relação deste com uma ex-namorada do suspeito. No Ceará, uma estudante disse que matou uma aluna porque era vítima de bullying praticado pela vítima e pela irmã gêmea dela. A Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza disse, em nota, que considera o caso um ''fato isolado".
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"As vítimas de bullying suportaram muito tempo os maus tratos dos colegas e a exclusão social e podem sofrer danos psíquicos que influenciam no seu desenvolvimento social", afirma a psicóloga Márcia Maranhão Limongi, autora da coleção de vídeos educativos "Bullying - Mal do século XXI na porta da sala de aula". "Apesar de os agressores serem vítimas de bullying, isso não é causa determinante para se tornarem assassinos. O que torna isso é uma combinação de vários fatores, sociais, de personalidade, ambientais e psicológicos que associados de uma forma diferente nesses indivíduos gera explosão de ódio e violência."
Segundo ela, as vítimas que não sabem lidar com raiva e humilhação podem se tornar agressoras e reproduz esta violência em escala muito maior. "Elas vão nutrindo desejos de vingança e tendo reação violenta." Já outras vítimas podem praticar violência contra si mesmas em vez de atacar alguém, segundo a psicóloga.
Em entrevista ao 'Jornal Hoje', a psicóloga Luana Lira diz que a família também tem responsabilidade. “A questão da tolerância hoje em dia está muito menor. Está nascendo uma geração em que os pais querem compensar a ausência em casa dando tudo e sem dizendo não. As crianças estão crescendo sem vivenciar a frustração. Quando tem uma frustração, elas perdem o controle. Não tem mais o controle emocional para lidar com isso. A questão da tolerância está muito menor, levando com mais facilidade a agir com violência.”
Na semana passada, o projeto criado pelo senador Gim Argello (PTB-DF) foi aprovado no Senado. Nele, as escolas são obrigadas a adotar estratégias de prevenção e combate ao bullying. “Punir não elimina o problema. A punição, como o próprio nome indica, apenas pune. E é prevenindo, transformando as nossas escolas, preparando os nossos professores e ensinando aos nossos jovens como lidar com o problema é que vamos, de fato, vencer essa guerra”, disse o senador no dia da aprovação.
O projeto precisa ainda ser aprovado pela Câmara. Para a lei "pegar", segundo especialistas, será preciso envolver a comunidade, escola, professores, pais e alunos. "É preciso ter uma preparação de profissionais, medidas preventivas para a violência, assessorar as vítimas e transformar os espectadores em aliados da comunidade", indica Márcia Limongi. "As medidas devem ser feitas por cada escola de acordo com a realidade de cada uma. Caso contrário, fica a coisa surreal que o governo impõe, a escola faz por obrigação e não resulta em nada."
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